Quem caminhava pela Nova York dos anos 1940 ou 1950 podia entrar em um clube (como o Minton’s ou o Five Spot) e dar de cara com músicos como Thelonious Monk, John Coltrane ou Dizzy Gillespie fazendo revoluções no jazz.
No Rio de Janeiro, no começo dos anos 1960, quem passasse pelo Beco das Garrafas encontraria jovens injetando novas possibilidades na bossa nova, criando o samba-jazz.
E quem estiver na São Paulo atual, visitando casas noturnas do Centro ou de Pinheiros, encontrará uma nova e empolgante cena de jazz.
Jovens músicos na faixa dos 20 anos se juntam em diversas formações, tocam em casas que se abrem ao gênero para um público cada vez mais interessado e trazem novas ideias ao jazz feito na cidade.
Em lugares como Bar B ou Tapas, Jazz nos Fundos ou New Jazz Bar, as noites são quentes nas intenções, nos resultados e nas possibilidades.
Uma das bandas mais interessantes desse cenário é o Otis Trio, originalmente de Santo André e, desde 2007, coletando ouvintes por festas, clubes, bares e casas de show (atualmente, fazem temporada aos sábados no Bar B).
O contrabaixista João Ciriaco diz que o projeto nasceu quando ele convidou amigos para tocar temas famosos.
“Mas, logo nos primeiros ensaios, o que iríamos tocar ficou para trás. Era mais legal tocar coisa nossa”, lembra.
“Hoje temos cem anos de história como matriz a ser degustada, assimilada e repassada ao nosso modo, dentro do contexto em que vivemos”, diz o guitarrista Luiz Galvão.
Se a linguagem é clássica, os pilares são reestruturados. O som dessa nova cena musical pode parecer o de sempre: baixo acústico, solos de sax tenor e trompete, bateria incansável, improvisos de piano e guitarra. Mas ninguém ali quer dizer o que já foi dito. O novo é o velho revisto.
O quarteto À Deriva, que está lançando seu terceiro disco, “Suíte do Náufrago” (selo independente), é outro nome que pode abalar um ouvinte mais desavisado com a sofisticação do som, tão poético quanto o nome da banda.
“Uma característica que sempre esteve presente no nosso trabalho é a improvisação livre. Buscamos tocar sem amarras de estilo, de forma, de hierarquia entre os instrumentos”, afirma o contrabaixista Rui Barossi.
Marcos Paiva, que lidera um trabalho de novos arranjos e novas composições sobre as harmonias e os ritmos do samba-jazz, acaba de gravar com o MP6 o disco “Meu Samba no Prato”, em homenagem ao baterista Edison Machado.
“Tenho a impressão de que a nossa música instrumental sempre sofre uma ruptura. Ela não se recicla, parece que não conseguimos desenvolver essa tradição”, diz Paiva. “Esse trabalho nasceu da vontade de fazer uma ligação com as pessoas da geração anterior.”
Boca a boca nas redes
Também inspirada no samba-jazz e com disco para sair, a big band Projeto Coisa Fina é dedicada à obra do músico Moacir Santos (1926-2006), também em novas composições e arranjos.
Parte do Movimento Elefantes –composto por dez grupos paulistas de sopro–, o Coisa Fina tem feito shows cada vez mais cheios. “Tocar no Studio SP é uma vitrine para o público da balada. O mais importante é o boca a boca. Esse lance de redes sociais está pegando fogo, e nós estamos aprendendo a aproveitar”, diz o contrabaixista Vinicius Pereira.
E o público que acompanha a cena? Barossi, do À Deriva, define: “São pessoas que estão dispostas a entrar no barco e a participar da viagem. A graça está em se deixar soltar dos preconceitos e fruir a música que fazemos na hora. Se estiverem de fora da brincadeira, vão achar só uma maluquice”.
Fonte: Folha Online