Trazer leveza a um período de internação. No Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), unidade da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) em Quixeramobim, as equipes buscam formas de amenizar os efeitos das longas internações, proporcionando a realização de desejos que vão desde instrumentos musicais até reencontros afetivos que devolvem cor aos dias.
Essas ações com foco na experiência do paciente são recorrentes na unidade, mas se manifestam de forma ainda mais intensa na Unidade de Cuidados Especiais (UCE), um serviço onde a internação precisa se estender ao longo de dias devido a quadro clínicos mais delicados e complexos.
“Na UCE você tem a visão do sofrimento em sua totalidade, não só do adoecimento. Mas o sofrimento só é intolerável quando ninguém cuida”, explica Cynara Nobre, enfermeira coordenadora da UCE do HRSC.
Realizando pedidos
Sem abdicar da segurança do paciente, a equipe mantém os ouvidos atentos a cada conversa, para identificar as vontades e os desejos expressos pelos pacientes internados e transformá-los em grandes momentos de alegria e alívio. Foi assim com Maria Soares Queiroz, de 88 anos, que, na última semana, quis tocar berimbau, algo que já não fazia há mais de 20 anos.
“Em uma das conversas ela disse que tocou vários instrumentos e falou no berimbau. Lembrei de um colega que faz capoeira e, em questão de três dias, da descoberta da história até conseguir o instrumento, realizamos o desejo da paciente”, conta Thays Lemos, residente de Psicologia do HRSC.

Thays teve o apoio da fisioterapeuta Larissa Araújo e da enfermeira Jocelane Nascimento, residentes multiprofissionais do HRSC. O filho de dona Maria foi convidado pela equipe a ir até o hospital, e juntos, mãe e filho, cantaram e tocaram o instrumento. “A gente vai fazendo coisas diferentes, que se convertem em algo muito importante para a recuperação do paciente”, diz a psicóloga.
Graças à equipe da UCE, outro paciente que realizou uma vontade foi Luiz de Aguiar Júnior. Desde que precisou ser internado, ele dizia sentir falta de Chico, seu cachorro de estimação. Após avaliação do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), a visita do animal foi autorizada e aconteceu na última sexta-feira, 10.

Além da emoção em poder rever o cachorro que convive com a família há vários anos, o momento foi planejado como uma surpresa pela equipe da UCE, numa tentativa de trazer mais ânimo para Júnior.
Na visão de Cynara Nobre, situações como essa evidenciam o espírito central da Enfermagem. “Não há cura sem o cuidado. Proporcionar experiências marcantes é também uma forma de cuidado. Se o paciente puder viver isso, vai sentir, assim como a família, que recebeu o cuidado que merecia”.
O coordenador de psicologia hospitalar do HRSC, Claudione Cavalcante, reforça que transformar o hospital em um local onde desejos se realizam, garante ao paciente a chance de recuperar o otimismo. “Ter uma memória afetiva revivida ou um sonho, ainda que simples, proporciona sair do foco doença e recobrar algo de sua autonomia, da bela vida cotidiana, da identidade”, reflete.