Um emocionante relato foi compartilhado pelo médico residente do Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), Lindvaldo Sousa, em uma publicação que detalha os últimos momentos vividos ao lado de Aila Maria, uma paciente terminal que ele conheceu há apenas uma semana. Ao se deparar com o prontuário de Aila, que indicava um quadro avançado de câncer, Lindvaldo refletiu sobre como poderia lidar com a situação e o que realmente poderia oferecer como médico.
Aila Maria, de 54 anos, era moradora de Quixeramobim e dedicou anos de sua vida ao trabalho no Hospital Regional Dr. Pontes Neto (HRDPN).
“Há uma semana conheci uma mulher de cinquenta e poucos anos. Antes de vê-la pessoalmente, li seu prontuário, que descrevia uma doença avançada e irreversível. Meu Deus! O que eu, como médico, poderia oferecer? Nada além de mim mesmo”, relatou Lindvaldo. Ele descreveu sua primeira interação com Aila como um encontro com uma mulher fragilizada pela doença, mas que ainda mantinha um olhar sereno e uma voz doce.
Ao conversar com ela, Lindvaldo perguntou se Aila tinha conhecimento sobre sua condição. A paciente, com um olhar triste e voz suave, confirmou que sabia da gravidade da doença, mencionando que seu oncologista havia dito que “não tinha mais jeito”. Este momento emocionou profundamente o médico, que sentiu um nó na garganta, mas também alívio por não precisar compartilhar a difícil notícia. Ele então perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta foi um pedido simples e tocante:
“Que me curasse, doutor.”
Emocionado, o médico respondeu:
“Dona Aila, eu queria, de todo o meu coração, ter o poder de tirar essa doença da senhora, mas infelizmente eu não consigo. Contudo, posso aliviar sua dor e garantir que não sinta sofrimento.”
Entre os desejos manifestados por Aila estava algo aparentemente simples: chupar gelo. Atendendo ao pedido, Lindvaldo congelou água em copinhos descartáveis, levando-os à paciente. Segundo ele, a felicidade de Aila ao receber o gelo foi imensa. “Com as mãos estendidas, ela foi pegando o gelo e disse: ‘Doutor, você realizou um sonho que eu tinha.’”
No final do dia, o médico organizou uma saída para a área externa do hospital, permitindo que Aila apreciasse o céu, as nuvens e o pôr do sol. Durante a conversa, a paciente relembrou momentos marcantes de sua vida e expressou gratidão.
“Queria tanto viver mais, doutor, mas Deus sabe de todas as coisas. Obrigada por tudo. Onde eu estiver, nunca esquecerei do senhor.”
Aila faleceu na tarde de sábado, 8 de março. Em seu relato, Lindvaldo destacou os últimos momentos que proporcionou à paciente, como controlar sua dor, permitir que visse o céu e sentisse o vento no rosto, além de realizar seu desejo de chupar gelo. No entanto, o médico confessou seu dilema emocional: “Vivo uma crise existencial com o sentimento de: vale a pena tanto esforço e sacrifício, se um dia a gente vive e no outro, não mais?”
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