Com o tema acima, eis a crônica enviada ao blog pelo escritor e membro da Academia Quixadaense de Letras (AQL), João Eudes Costa:
O meu fascínio pelas rosas vem da infância. Aos primeiros passos, acompanhava minha mãe, quando cuidava do seu jardim. Ao amanhecer, com um regador de flandres, banhava as roseiras e matava a sede tanto das papoulas multicores como das humildes plantas silvestres.
A cada uma que nascia minha mãe acariciava suas pétalas e se emocionava a elogiar a perfeição Divina. Beijava-a, com carinho, como se tivesse nas mãos um filho de suas próprias entranhas.
Diariamente, assistia àquele ritual de amor que também me comovia. Não sabia olhar para uma flor, por minúscula que fosse que não visse nela a imagem de minha mãe. Eram irmãs que nasciam, todos os dias, no jardim de minha vida.
Lembro-me que apontava, com o dedo da inocência, as flores que via ao amanhecer. Mamãe, guiada pela minha alegria, sorria a cada uma das recém-nascidas. Ressaltava a beleza do colorido e as perfumava com o beijo materno.
No mês de maio, quando as plantas estavam no vigor da floração, banhadas pelas águas das chuvas, o jardim floria. Por isso, o denominamos como o mês das flores e também o querido mês de Maria, mãe do Criador. Deus, sabendo de nossa pobreza, manda as flores em maio para que, nas festas tradicionais da coroação de N. Senhora, possamos fazer coroas de flores naturais. Flores nascidas do bendito sopro do Espírito Santo, banhadas com águas descidas do céu.
As flores, porém, não foram criadas apenas para enfeitar as alegrias da vida. Também servem para marcar os momentos de tristeza e dor. Molduram o corpo dos que partem desta vida, envolvidos com as flores da afeição e de nossa saudade.
O mês de maio que me proporcionou tanta alegria; que me fez sorrir, apertando no peito a rosa perfumada de meu jardim, também assistiu ao meu pesar, e ouviu o soluçar de minha dor. Foi no mês de maio que minha mãe partiu para sempre, levando sobre seu corpo as flores que regou com muito amor e deixando entre nós a roseira da saudade.
As flores, por isso, continuam a me emocionar. Em cada uma que vejo sinto a presença de minha mãe. Vejo o seu sorriso, ouço a sua voz, sinto o seu carinho e a força de seu amor. Em cada rosa que cheiro, sinto o perfume da saudade. Em toda pétala que seguro, toco na maciez de seu corpo. Sinto os seus braços a me enlaçarem e o beijo carinhoso a fazer correr no rosto as lágrimas da recordação, que somente as suas mãos, em forma de rosas, são capazes de enxugar.
Em todo mês de maio, quando os jardins estão em festa, corro ansioso para abraçar cada uma de suas flores. Na comovente peregrinação, sinto o sonhado reencontro com minha mãe. Despertado do êxtase, fico pensativo ao constatar que, na realidade, de meu jardim foi ceifada a mais bela e perfumada rosa.
Consola-me, porém, a graça que Deus concede, mostrando que, em cada flor, nasce o símbolo do amor. Conforta-me acreditar que o mundo ainda será transformado num vasto florir de rosas, onde todos se estimam e se respeitam verdadeiramente.
Neste jardim de amor, minha mãe continuará colorindo, alegrando e enfeitando um mundo que Jesus preparou para nós, com o sacrifício da própria vida. Em cada flor ela estará ali, para que eu possa, afetuosamente, abraçá-la e beijá-la todos os dias.
Deus levou a minha mãe porque o vergel celestial também precisa de belas, singelas e coloridas flores. Tira uma que amamos e faz nascer outra que também devem merecer nosso afeto para que a semente do bem seja sempre multiplicada.
As rosas que sobem ao céu passeiam pelas nuvens, espalhando o aroma sagrado do jardim de Deus, perfumando um mundo que, mortalmente ferido, morre sufocado pela luta de irmãos que se digladiam, indiferentes ao sagrado perfume exalado do céu.