Em que estrela te escondes, Aécio Neves? Em que águas tépidas mergulhas? Em que braços roliços te aninhas?
Não reverbera ao teu redor a aflição dos que sofrem com a transfusão de votos entre Lula, o doador, e Dilma Rousseff, a receptora?
Achas que farás teu sucessor em Minas enquanto tudo mais desmorona? E o quê de ti dirão depois, Aécio?
Pobre Aécio, filho de Aécio Cunha, ex-deputado federal; neto de Tristão, também ex-deputado federal; e de Tancredo Neves, o presidente da República que foi sem nunca ter sido.
Ninguém duvida da sua eleição para o Senado depois de quase oito anos de bom governo em Minas Gerais. Mas quem aposta em sua força para eleger sozinho governador o advogado Antonio Augusto Anastasia?
Quantas eleições disputou Anastasia? Uma, como vice de Aécio. Há quantos anos é militante do PSDB? Basta uma mão para contar o número de anos. Que passado político o credencia a disputar o cargo dos sonhos de todos os políticos mineiros? Destacou-se como técnico e administrador talentoso.
Gente, Anastasia lembra quem? Sim, ele é a Dilma de Aécio. E Aécio pretende ser o Lula de Anastasia.
Até pode vir a ser. De resto, Anastasia leva algumas vantagens sobre Dilma. Apenas 25% dos mineiros sabem que ele é o candidato de Aécio. Cerca de 75% dos brasileiros já sabem que Dilma é a candidata de Lula. Anastasia, pois, tem bastante espaço para crescer.
Dilma largou o governo para concorrer à vaga de Lula. Anastasia sentou na cadeira de governador para tentar permanecer ali por mais quatro anos. Apesar disso…
Para eleger o atual prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, nome sacado do seu bolso e desconhecido dos mineiros, Aécio juntou-se a Fernando Pimentel, do PT, na época ainda prefeito da cidade.
No primeiro turno, os dois acreditaram na teoria do andor. Pouco importava quem fosse o santo – no caso, alguém que entrara na política apenas um ano antes. Importava quem o carregasse.
Pois foi um sufoco. Na reta final da campanha, engrossou a procissão atrás de Leonardo Quintão, deputado federal do PMDB, um candidato de poucas idéias, porém simpático.
Lacerda chegou quase sem fôlego ao fim do primeiro turno. E foi à luta no segundo com 20 pontos atrás de Quintão nas pesquisas de intenção de voto. Custou caro – ah, como custou! – eleger Lacerda.
Outra vez Aécio está sob forte pressão para aceitar a vaga de vice de José Serra, acossado por Dilma.
No vasto mercado de teorias políticas que afloram às vésperas de eleições, ganhou força aquela que condiciona a eleição de Anastasia ao gesto de aparente desprendimento de Aécio, capaz de trocar uma vaga certa de senador por uma incerta de vice.
Candidato a vice de Serra, Aécio aumentaria seu cacife para derrotar Hélio, o PT e Lula.
Uma coisa é ele pedir votos para Anastasia como ex-governador de largo prestígio e senador praticamente eleito. Outra seria pedir como candidato a vice.
Uma vitória de Serra manteria Minas no primeiro escalão da República. Dilma é a mineira mais gaúcha que se conhece. Assim como Lula é o mais paulista dos pernambucanos.
A teoria não deverá ser testada por um monte de razões. A primeira: Aécio não acredita numa eventual vitória de Serra. Morrerá dizendo o contrário, mas não acredita.
A segunda razão: não importa a segunda razão. Nem as demais.
Que vantagem Maria leva se arriscando a uma derrota que considera provável? Ficaria sem mandato. E ainda ouviria o desaforo: “O tal do Aécio não tinha tantos votos como se pensava”.
Pelo aspirante a Rei, tudo, menos o próprio destino.
Aécio pugnará por Serra convencido de que ele seria melhor presidente do que Dilma. Mas uma eventual vitória de Serra dependerá de Serra e de suas circunstâncias.
De fato, o que em outubro decidirá a maioria dos brasileiros é se Lula merece ganhar um terceiro mandato por interposta pessoa. No momento, tudo indica que a decisão será favorável a ele.
Fonte:Blog do Noblat