O presidente-ditador Costa e Silva, não era um leitor obsessivo, que segundo o general Golbery do Couto e Silva leu o seu último livro como cadete, mas cultivava o bom humor. Em visita, quando presidente na ditadura militar ao Jornal do Brasil, na velha sede na Avenida Rio Branco, queixou-se à Condessa Pereira Carneiro, educada e culta, que aqui e acolá, mesmo com a censura rigorosa à imprensa, o JB dava as suas cutucadas no governo, A condessa saiu pela tangente clássica: “O JB faz a crítica construtiva”. Era um jogo de palavras que Costa e Silva desmontou com uma saída gaiata e sincera: Condessa, eu não gosto de crítica construtiva. O que eu gosto mesmo é de elogio”.
Tantas décadas depois, e o Presidente Lula, com toda a prosápia de um dos líderes mais populares do mundo, com 83 de aprovação nas pesquisas, puxa o coro do cordão que cada dia aumenta mais, das críticas diárias à imprensa, no viés de quem vai além do presidente-ditador Costa e Silva. E está na surpreendente companhia do candidato da oposição, o governador de São Paulo José Serra (PSDB) que reclamou asperamente da imprensa por não ter elogiado com o devido entusiasmo as suas realizações na área da saúde, que acabaram ficando “na clandestinidade”. Um jornal que não identificou cometeu o erro crasso ao afirmar que ele inaugurou um centro de saúde incompleto. Os prezados colegas paulistas que se entendam como seu lerdo governador, que levou meses para confirmar o que todo mundo sabia: que era candidato da oposição.
Bem mais preocupante, sob todos os aspectos, a obsessiva implicância de Lula com a imprensa, a quem deve muito da sua popularidade com a ampla cobertura de suas atividades como líder operário em São Paulo, com todos os riscos da censura da ditadura militar. E que cobre cada um dos seus passos nos giros pelo mundo como o líder internacional que sonha com a presidência da Organização das Nações Unidas, a ONU das três letras invejadas. Pois a cada dia, sem faltar um só, o presidente destila a sua bílis nas queixas contra a imprensa. Justamente o presidente montou um esquema de divulgação de fazer inveja ao seu amigo Fidel Castro e aos dirigentes cubanos.
Para ficar no resmungo do dia, o Presidente Lula queixou-se da imprensa pela pífia cobertura da inauguração de obras federais e que mereceram a classificação de mentirosa. “Inaugurei duas mil casas e não vi uma nota no jornal (que não identificou). Mas, quando cai um barraco, eles dizem que caiu uma casa.”
Mais curiosa é a queixa presidencial de que acorda cedo, lê todos os jornais e às vezes não encontra uma linha sobre o governo. Ora, o presidente já se desculpou que não lê jornais e quando teima fica enjoado e com dor de cabeça. E todos os jornais ninguém lê. Nem os pauteiros. E não há dia em que o presidente não ocupe amplos e privilegiados espaços nos jornais. O que não é favor nenhum nem gentileza de amigos. E que o presidente da República é notícia.
Fonte:(http://www.vbcorrea.com.br/?p=1755 ).