O mês no qual se comemora o Dia Internacional da Mulher trouxe uma emocionante surpresa para 80 pacientes internadas no Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Elas receberam cartas com textos de reflexão, esperança e conforto, escritas por alunos da rede estadual de ensino de Quixeramobim.
As mensagens foram entregues em uma ação organizada pelo Núcleo de Experiência do Paciente (Nexp) do HRSC, no último dia 8 de março. Cada uma das mulheres internadas recebeu a carta no leito onde estava, endereçada em seu nome. No hospital há mais de uma semana, algumas das pacientes imaginavam que a data passaria despercebida, e não controlaram a emoção.
Procedente de Quixeramobim, Antônia Bárbara de Sousa, 39, aguarda uma cirurgia. Ao receber a carta, disse ter ficado surpresa. “Passou força, dizendo pra gente não se culpar tanto. Gostei demais!”.
Experiência semelhante teve a conterrânea dela, Samara Pereira dos Santos, 30 anos. Internada há uma semana, a mulher revelou que estava triste, com a sensação de que não iria suportar passar pelos problemas de saúde. “Aí de repente chega uma carta linda dessa! Foi muito lindo, eu amei, de verdade”, confessa.
A enfermeira Cynara Nobre, que compõe o Nexp e coordenou a ação, citou a lição compartilhada pelo médico Patch Adams como inspiração. Cynara lembra que o médico americano, referência mundial no atendimento humanizado e que teve sua história eternizada no cinema, indicava remédios para a dor, mas dizia que só o amor aliviava o sofrimento. “É muito difícil ser mulher, ainda mais quando se está internada, fragilizada. Então as mensagens trouxeram um acalento, eu diria que foi uma terapia não farmacológica: um remédio para a alma”.
Aprendizagem humanizada
Uma parte das cartas foi produzida por colaboradores do setor administrativo do HRSC, mas a maioria delas foi escrita por alunos da Escola de Ensino Profissionalizante Dr. José Alves da Silveira, que tem mais de 600 alunos em Quixeramobim. A professora e apresentadora de TV, Rayane Fernandes, trabalhou a proposta com os alunos, depois de ouvir Cynara falar do Nexp durante uma entrevista no programa dela. “Eu estava trabalhando o gênero carta e coloquei meus alunos para exercitarem na prática”, diz.
A professora ressalta ainda o compromisso social da educação, estimulando as habilidades adquiridas em prol da transformação social. “Dentro da língua portuguesa a gente desenvolve várias habilidades, mas elas devem ter uma finalidade social, de fazer ou trazer algo por e para alguém. Eu procurei desenvolver as habilidades socioemocionais dos alunos e fiz eles escreverem para essas mulheres do HRSC”, conta.
O presidente do Nexp, Elisfabio Duarte, que também é diretor administrativo do HRSC, vê a iniciativa como uma oportunidade de expressar a vocação das equipes para o cuidado centrado na pessoa. “Foi muito bacana poder contar com a parceria de pessoas externas, no caso a professora e os alunos, que nos ajudaram a promover um momento que, certamente, vai marcar a experiência dessas mulheres em sua passagem pelo nosso serviço. Isso é a condução do cuidado humano, no mais amplo sentido do termo”, diz.