A história de luta e resistência da Comunidade Bom Futuro, localizada a cerca de 20 km da sede de Quixeramobim, no Sertão Central do Ceará, ganhou um novo capítulo na última semana, quando teve, por parte da Fundação Cultural Palmares, o reconhecimento oficial como comunidade quilombola. Com uma trajetória de 165 anos marcada pela força da família Peba, o agora Quilombo Bom Futuro reafirma suas raízes e direitos como povo tradicional.
De acordo com a pesquisa do historiador Carlos César Sabino, a origem da comunidade remonta ao final do século XIX, quando Francisco Solon Batista, conhecido como Francisco Peba, filho de uma mulher escravizada, rompeu as correntes da escravidão na fazenda Marajó, antiga propriedade da família Saraiva Leão, uma das mais conhecidas por explorar mão de obra escrava na região. O reconhecimento ocorreu na última sexta-feira, 30 de junho. Esta é a segunda comunidade quilombola reconhecida pela Fundação Palmares em Quixeramobim, a primeira é a comunidade de Mearim, no Distrito de Lacerda.
Histórico da comunidade
Pesquisado pelo historiador Carlos César Sabino, o documento que fundamentou o registro resgata a trajetória da família Peba, originária da fazenda Marajó, em Quixeramobim, interior do Ceará. O estudo revela que o Quilombo Bom Futuro tem suas raízes na história de Francisco Solon Batista, o Francisco Peba, nascido em 1860, filho da escravizada Joaquina Maria de Jesus.
Francisco trabalhou como escravo para o Major João Batista da Costa Coelho, um dos principais escravocratas da região. Em 1885, casou-se com Maria Joaquina de Lima, também descendente de escravizados. Dentre seus filhos, destacou-se Francisco Estevam de Lima, o Chico Peba, responsável por fundar o Quilombo Bom Futuro, após adquirir as terras onde hoje vivem seus descendentes.
Atualmente, a comunidade é formada por 11 famílias, somando cerca de 44 pessoas, que sobrevivem da agricultura de subsistência, criação de gado e de programas sociais. Situado a 20 km da sede de Quixeramobim, o quilombo ainda enfrenta condições precárias, mas mantém vivas as tradições culturais herdadas dos antepassados, como cantigas, festas e forte religiosidade.
Sem igreja própria, os ritos religiosos, como batismos e casamentos, são realizados na Igreja de São Sebastião do Lacerda, localizada a 10 km. Apesar das dificuldades, a comunidade resiste e luta por direitos, buscando preservar sua história e identidade quilombola.
A pesquisa teve como fontes o Arquivo Público do Estado do Ceará, a Diocese de Quixadá e registros do Cartório de Quixeramobim.