Devota de São Francisco de Assis, a aposentada Filomena Félix de Lima, de 85 anos, participava de uma missa na paróquia de Lagoa do Mato, no distrito cearense de Itatira, quando passou mal. “Socorreram ela até o hospital, e o médico disse que era um Acidente Vascular Cerebral (AVC)”, conta a filha, Maria Milza, de 61. Filomena foi transferida para o Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), unidade da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), em Quixeramobim.
“Quando chegamos ao HRSC, a mamãe teve outras complicações que agravaram o quadro, mas graças ao atendimento que tivemos aqui, o tratamento do AVC foi controlado”, relata Nilza, que acompanhou a mãe durante os dois meses de internação. A Unidade de AVC (UAVC) que funciona no hospital é referência para mais de 600 mil habitantes da região. A maioria dos pacientes com diagnóstico confirmado de AVC é composta por idosos.
Apesar de uma série de comorbidades, Filomena não ficou com sequelas, graças ao diagnóstico precoce. Agora, ela precisa cumprir as orientações para manter uma rotina de cuidados. “Ficamos muito mais tranquilos depois que ela foi atendida. Toda a equipe nos ajudou muito”, destaca a filha dela.
Levantamento da UAVC mostra que, desde 2018, quando o serviço começou a funcionar, 4.495 pessoas deram entrada com AVC confirmado. Deste total, 2.988 eram pacientes com mais de 65 anos, o que corresponde a 66% dos total de atendimentos.

Idade avançada aumenta os riscos
A médica neurologista da UAVC do HRSC, Anaise Borges, confirma que a idade avançada é um fator relevante. “Estudos mostram que a idade é um dos principais fatores de risco para desenvolver o AVC”, afirma a médica.
Ela alerta, no entanto, que o problema tem atingido também pessoas mais jovens, em decorrência de hábitos de vida não saudáveis, como o uso de drogas, consumo excessivo de álcool e doenças crônicas mal controladas, como diabetes e hipertensão. “Hoje, uma em cada quatro pessoas a partir dos 25 anos pode ter um AVC, e isso é muito grave”, reforça.
Nos idosos, as consequências são ainda mais severas, tornando fundamental o reconhecimento precoce dos sinais da doença. “Quando não diagnosticado a tempo, o paciente pode ficar acamado. Mesmo sem sequelas motoras evidentes, pode desenvolver problemas cognitivos que vão aparecer só mais tarde”, explica Anaise.
Sinais que salvam
Foi a observação rápida da esposa que ajudou o aposentado Francisco das Chagas Silva, de 79 anos, a identificar os sinais do AVC. “Acordei de um cochilo e não senti minha perna. Estava puxando ela ao andar. Fui ao posto, e de lá me levaram para o hospital. Era AVC”, lembra. Francisco foi tratado e está bem.
A janela de tempo ideal para o atendimento é de até quatro horas após o início dos sintomas de AVC. A assistência iniciada no tempo adequado diminui os riscos de sequelas, bem como possibilita o acesso às terapias de reabilitação conduzidas por equipes formadas por profissionais de diferentes especialidades, entre elas, a fisioterapia.
Os sinais mais comuns de um AVC incluem fraqueza ou formigamento em um lado do corpo, dificuldade na fala ou compreensão, alteração da visão, confusão mental, tontura e dor de cabeça súbita e intensa.
HRSC é referência na região

No HRSC, os pacientes contam com uma equipe especializada e métodos de tratamento reconhecidos internacionalmente. Uma das conquistas mais recentes foi o selo “Cidade Angels”, graças à iniciativa da equipe em treinar estudantes da rede pública para reconhecer que sonolência, desorientação, boca torta, dificuldades na fala, dor de cabeça súbita e perda de força são sinais de um AVC, e saber como acionar o socorro médico.
“Me sinto feliz por trabalhar em uma unidade com uma equipe afinada. Aqui, além de atender rapidamente os pacientes que chegam, também atuamos na identificação de sinais em outros setores e treinamos profissionais para reconhecer os sintomas, principalmente em quem apresenta fatores de risco”, conclui Anaise Borges.