O Ceará voltou a ter 100% das regiões com áreas de seca relativa após 27 meses, segundo o Monitor de Secas de outubro, elaborado no último dia 20 de novembro. A situação não era vista desde julho de 2021, conforme o levantamento.
O Monitor das Secas é um acompanhamento regular e periódico do cenário de seca, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), com a contribuição de outras instituições governamentais, estando disponível para acesso em locais como o site da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
Em 2021, o Estado vivenciou um baixo regime de chuvas que comprometeu o abastecimento dos açudes. O cenário só veio a melhorar com a pré-estação chuvosa de 2022. Em julho do ano seguinte, a seca atingia 16% do território.
Já em 2023, com uma boa quadra chuvosa alavancada pelo melhor mês de março em 15 anos, o Estado chegou a passar quatro meses sem seca relativa, entre março e junho.
Porém, em julho, a situação se alterou mais uma vez e a seca retornou a 33,7% das áreas. Com o decorrer dos meses, houve piora. Em setembro, apenas 18% do território estava livre do fenômeno, correspondendo a áreas do litoral.
A “seca relativa”, de acordo com o Monitor, mede o desvio entre o que seria esperado normalmente naquela época, para determinado local, e o que foi de fato observado.
Conforme o novo relatório, outubro apresenta seca relativa em 100% dos 184 municípios. “Houve avanço da seca fraca no norte do estado, além do agravamento da seca no oeste, que passou de fraca para moderada”, detalha o Monitor.
A área com avanço da seca moderada inclui parte dos Sertões dos Crateús e Inhamuns, do Cariri e da Serra da Ibiapaba. Entre os municípios atingidos, estão Croatá, Poranga, Crateús, Quiterianópolis, Parambu, Tauá, Aiuaba, Campos Sales e Salitre.
Até o momento, o Monitor indica que o cenário teve impactos a curto prazo (últimos 3, 4 e 6 meses), principalmente sobre atividades de agricultura e pastagem.
O Monitor é resultado da colaboração entre diferentes instituições com o objetivo de “melhorar o alerta precoce e a previsão de secas, assim como servir como subsídio para a tomada de decisões e políticas em escala federal, estadual e local”.
Efeitos do El Niño
O agravamento da seca já é considerado um impacto da forte intensidade do El Niño, fenômeno climático caracterizado pelo aquecimento da superfície do Oceano Pacífico que traz efeitos negativos para o regime de chuvas no Nordeste brasileiro.
A edição de novembro do Painel El Niño 2023-2024, iniciativa da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), por exemplo, indica previsão de calor acima da média entre dezembro e fevereiro em grande parte do Brasil.
Nessa conjuntura, o Ceará já tem previsão de seca e possibilidade de um ‘super El Niño’ em 2024, conforme alguns pesquisadores, reverberando na temperatura, no regime de chuvas e no aporte hídrico dos reservatórios.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) também aponta que, para o Nordeste, a previsão é de um volume de chuvas menor para o período de janeiro a julho de 2024, o que pode levar a uma recarga hídrica insuficiente.
Plano de ação no Ceará
Na iminência da seca, o Governo do Estado convocou diversas secretarias para uma reunião na última terça-feira (28) e solicitou a produção de um plano detalhado de ações a ser implementado em resposta ao cenário adverso.
O levantamento deve ser concluído até o dia 13 de dezembro, para que gestão estadual peça ajuda ao Governo Federal na efetivação de algumas iniciativas.
O secretário interino dos Recursos Hídricos, Ramom Rodrigues, ressalta que a população não pode achar que “está com muita água” por causa da boa recarga dos açudes neste ano – atualmente com 40,1% acumulados, segundo o Portal Hidrológico.
“O que estamos dizendo é que nossos estoques, apesar de estarem confortáveis em algumas regiões, temos que ter muita parcimônia no uso dessa água, porque não sabemos como virá 2025. Sabemos que 2024 será um ano de pouca água nos nossos reservatórios”, disse.
Dentre as regiões com baixo estoque, ele cita as bacias do Curu, Crateús e o Médio Jaguaribe, apesar da presença do Castanhão. (Do Diário do Nordeste)