Consequências do curto-circuito, na última terça-feira, no Hospital Instituto Doutor José Frota (IJF), continuam a atrapalhar a vida daqueles que precisam dos serviços públicos de saúde. Em visita ao Frotão, ontem à tarde, um grupo de deputados estaduais constatou o velho problema de superlotação e pôde testemunhar as fragilidades de um hospital que funciona com 150% de lotação, tem 48% do seu público oriundo do interior, acostumou-se a empilhar pacientes graves nos corredores e maltrata, com o calor, doentes, acompanhantes e funcionários.
Como saldo do curto-circuito ficaram diversos problemas, entre eles: o não funcionamento de cinco, das onze salas cirúrgicas, devido à falta de refrigeração, a suspensão de realização de cirurgias eletivas, o não funcionamento de exames radiológicos e de imagem e a triagem dos pacientes que vão ou não poder ser atendidos. “Funcionamos ainda com 90% da nossa capacidade total. Talvez regularizemos os serviços no domingo”, explicou o superintendente do IJF, Messias Barbosa, aparentando querer minimizar os danos.
Uma velha novidade. Como resultado da visita, os deputados estaduais apontaram o grave problema da superlotação e a necessidade urgente de construção de um novo hospital de emergência e um de “retaguarda”, que atenderia pacientes já estabilizados, e teria 200 leitos hospitalares convencionais e outros 40 de Unidades de Terapia Intensiva. Caminhando pelos corredores, os parlamentares Wellington Landim (PSB), João Jaime (PSDB), Artur Bruno (PT) e Heitor Férrer (PDT) vistoriaram as diversas unidades do IJF, checaram cada canto à procura de falhas e de denúncias.
Ao final do trajeto, a visita rendeu uma série de reclamações, mas sem um encaminhamento claro, um documento ou um relatório final para tentar resolver a antiga demanda. “Essa visita deixou claro a questão da superlotação. O IJF não suporta mais a carga de pacientes, a cidade precisa de outro hospital de urgência. Vamos sugerir, com veemência, na Assembleia, a responsabilização das gestões, visto que muitos dos que lotam os corredores vêm do interior do Estado”, disse Wellington Landim. O Ministério Público, convidado pelo grupo, não compareceu à visita.
RESPONSABILIDADE MÚTUA
A comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB seção Ceará) se fez presente e soltou o verbo, denunciando sérias violações ao direito à saúde. “Não há uma valorização e um cuidado com à vida. O IJF não traz condições de atendimento adequado e oferece um péssimo serviço. O hospital não cumpre com a missão constitucional”, disse o presidente da Comissão, Fernando Férrer.
Mas por que do não cumprimento dessa missão? Para o secretário de Saúde de Fortaleza, Alexandre Mont’Alverne, há que se haver uma co-responsabilidade entre as gestões municipais e estaduais para a construção de um novo hospital. “O déficit de UTIs, por exemplo, não se refere somente à Fortaleza, mas também ao Estado já que a maioria das internações é de pacientes vindos do interior. O município não tem que carregar essa responsabilidade sozinho”, frisou o secretário municipal comentando sobre o projeto de construção de uma nova unidade com recursos da Copa do Mundo.
PONDERAÇÃO
“Essa questão da superlotação é uma demanda da sociedade que já deveria ter sido resolvida há muito tempo, não dá mais para esperar. Como dar milhões a um aquário e não garantir dinheiro para um novo hospital?”, questionou Heitor Ferrer. Acompanhando o coro, João Jaime comentou da inadequação dos serviços oferecidos e apontou as várias falhas do Frotão. “Ele não traz condições. Não podemos considerar o IJF um hospital de referencia, ele não é, falta muito para ser”, ponderou o parlamentar do PSDB.
Mas como resolver o problema? Forçando uma postura da Assembleia Legislativa com relação ao problema, o superintendente disse ser necessária uma maior pressão política. “Queremos uma ajuda substancial da Assembleia. Como é que uma cidade tão grande só tem um hospital de urgência e emergência?”, indagou Messias Barbosa dando uma “cutucada” nos parlamentares. Indo na mesma linha, Mont’Alverne completou: “não adianta ficar fazendo visitas e mais visitas se nada for feito. Em ano eleitoral todo mundo faz denúncias, quero ver resolver”, criticou.
Segundo Heitor Férrer, dos 14 milhões mensais necessários para prover o funcionamento do IJF, 10,4 milhões saem do cofre da Prefeitura, 3 milhões do SUS e 600 mil do Estado. “O contribuinte de Fortaleza não pode ser o financiador quase que exclusivo de um hospital que disponibiliza 50% dos leitos para o interior”, afirmou. Comentando sobre a possível responsabilidade do Governo no caos da saúde pública na Capital, o líder do governo na Assembleia, Nelson Martins (PT), disse que Cid Gomes tem feito muito para a melhoria ao ampliar a emergência do hospital Geral de Fortaleza (HGF) e construir 21 policlínicas no interior. “Está em fase de entrega um Hospital em Juazeiro, que custou R$ 80 milhões, e o de Sobral, que custará R$ 133 milhões. Tenho uma opinião pessoal de que o IJF, nesse episodio do incêndio, tem sido muito injustiçado. É uma grande injustiça com a prefeita de Fortaleza. Ele só está assim, caótico, por negligência dos governos anteriores”, ponderou Nelson Martins.
ÊITA CALOR!
Entre tantas reclamações, uma parecia mais gritante: a do calor devido à precariedade da climatização. Acompanhando o pai doente, a dona de casa Lucilene Ferreira disse não aguentar mais o clima abafado. “Os pacientes estão todos passando mal devido ao calor, da falta de ar condicionado. É um absurdo”, frisou a dona de casa, enquanto fazia vigília junto ao pai acomodado nos corredores do Frotão.
O cheiro de queimado ainda continuava no IJF e isso assustava Lucilene. “Precisa acontecer outro incêndio para que tomem algumas providencias?”, indagou a acompanhante. Messias Barbosa confirmou não haver motivos para pânico e afirmou que, ainda hoje, o laudo da perícia técnica feito pelo Hospital será divulgado. “Vamos resolver logo o problema da energia. Não foi nada demais. Talvez tenhamos comprado um material de energia com baixa qualidade. O curto-circuito não foi uma irresponsabilidade nossa, mas sim um acidente”, frisou o superintendente, comentando que a unidade tem sim alvará de funcionamento expedido pelo Corpo de Bombeiros.
(Fonte: Jornal O Estado)