Violência cresce gradativamente entre crianças e adolescentes. Desigualdade social é o principal fatorEntre as regiões metropolitanas do Nordeste, é a de Fortaleza que possui maiores índices de homicídio envolvendo crianças e adolescentes de zero a 19 anos. Situação crescente e observada no período de dez anos.
A conclusão é do Mapa da Violência 2010 – Anatomia dos Homicídios no Brasil, que revela um aumento de 119,5% nos números de assassinatos de crianças e adolescentes na Grande Fortaleza. Os resultados da pesquisa, realizada pelo Instituto Sangari, entre 1997 e 2007 apontam que a problemática infanto-juvenil aparece em primeiro plano, quando o assunto é violência homicida.
A taxa de assassinatos referente a população de jovens entre 15 e 24 anos também é alta. Aumentou em 89,9% e nesta parcela a Capital cearense também é a primeira do Nordeste em homicídios.A pesquisa revela que ter crianças e adolescentes morrendo por assassinatos é um fato extremamente anormal, se forem observados os mais diversos fenômenos de violência que acontecem no mundo.
Além disso, o estudo também aponta que a variação dos índices de assassinatos é explicado pela variação dos índices de concentração de renda, ou seja, os jovens, mais do que outras fatias da população, são os mais afetados pelos efeitos da desigualdade social.Para o chefe do Departamento de Polícia Especializada (DPE) da Polícia Civil do Estado do Ceará, Jairo Pequeno, o resultado da pesquisa apenas atesta uma situação que é observada facilmente nas delegacias.
Quase que diariamente morrem um ou dois adolescentes, moradores da periferia. “E os homicídios são motivados por acerto de contas, são os menores envolvidos no tráfico, chamados de “aviões”, ou brigas de gangue, partilha da droga”, conta.O avanço da violência homicida entre as crianças da Grande Fortaleza, entretanto, não passa despercebida pelo Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca).
Para a assessora comunitária do órgão, Mara Carneiro, houve momentos em que a entidade chegou a acompanhar casos críticos. “Tivemos relato de 40 assassinatos de adolescentes na comunidade do Jangurussu há alguns anos atrás. Acontecia uma verdadeira matança na região em curto espaço de tempo”.Para mudar essa realidade, foi formada uma rede para enfrentar essa violência.
“A comunidade, associações, igrejas, todos se uniram para intervir. Surgiu uma proposta de educação em tempo integral, apoiada pelo poder público, com a qual esperamos trazer resultados positivos”, disse Maria Carneiro. Ela completa que as disparidades sociais e o apelo ao consumo são fatores que precisam ser combatidos para mudar a realidade revelada na pesquisa.
A assessora observa, ainda, que as políticas públicas de segurança avançaram muito. “Foram várias mortes sem abertura de inquérito policial. A polícia se ocupa em responsabilizar os mais fracos; os meninos são a ponta do iceberg que é muito maior; a polícia só chega naquele que vende a droga, mas não em quem comanda o tráfico”.
Jairo Pequeno também conclui que não os resultados efetivos de segurança dependem de uma ação mútua de repressão e prevenção. “Não basta prender, temos que manter uma política permanente de desarmamento. As mortes acontecem pelas armas. Cada revolver apreendido é um assalto ou homicídio a menos.
Me diga o que é melhor? Evitar 50 crimes ou descobrir 100? É necessário mapear locais de crime, perceber onde existe a terceirização das armas, intensificar a prevenção”.O Chefe do DPE espera que, com a inauguração da Divisão de Homicídio, a Polícia Civil consiga reduzir o número de mortes entre jovens.
(Fonte:Jornal Diário do Nordeste)